sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Revolução Mental

Portugal não quer e não está preparado para uma Transição Monárquica. É necessário reconhecer que fora dos meios pró-monarquicos, Rei e Monarquia são verbo morto. Ponto.
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Um século de Regime Republicano feito da anarquia in extremis dos 16 anos da I Républica (participação na I Grande Guerra, 8 presidentes e 45 governos!!), 40 anos de provincialismo e perificidade auto-consentidos e retranca sob a égide do Estado Novo de Salazar e as andanças, decorrentes e subsequentes, ao 25 de Abril de 1974 conjuntamente com o longo exílio dos nossos Reis e o desaparecimento das gerações de Portugueses que viveram "no tempo Monarquia" ditaram o virar de costas entre Portugal e os seus 800 anos de História Monárquica.
Referendar os portugueses quanto à forma do regime seria neste momento um erro crasso. Não é expectável que um Povo opte por aquilo que desconhece. Pessoalmente evito tiros no pé, portanto faço votos para que o referendo não aconteça nos tempos imediatos.

Desse modo, o primeiro trabalho sério e balizado dos monárquicos organizados deverá ser o da re-apresentação da Monarquia a Portugal e o de arredar a ideia de Monarquia como forma de Estado vetusta e anacrónica.
Recordo a nível de curiosidade e como exercício de cronologia que Salazar e el Rei Dom Manuel II nasceram no mesmo ano de 1889. Ao passo que em 1932 Salazar iniciaria uma carreira política que, tal qual um reinado, duraria até à sua morte em 1970, por seu lado, em 1933, a vida daquele que foi o último Rei de Portugal finava-se no exilio em Londres. Curiosa ironia da História que dois homens nascidos no mesmo ano e predestinados a responsabilidades tão diversas, vejam afinal, os seus percursos de vida tão revolucionados. De tudo isto especulo que, muito provavelmente, no caso de não terem sucedido os acontecimentos de 5 de Outubro de 1910, Portugal teria chegado aos anos 70 do século passado pela mão do rei Dom Manuel II. Assim tivesse sido, e o Rei tivesse gerado progenitura, (digamos nos anos 30) quem sabe, em 2010, não seria ainda Rei de Portugal um filho de Dom Manuel II (a actual Rainha de Inglaterra, que nasceu em 1926, corresponde à geração de qualquer hipotético filho que o Rei de Portugal pudesse ter tido). Daqui constato que entre 1910 e a actualidade saltou-se apenas um hipotético titular na numeração dos Reis de Portugal. O tempo da Monarquia não vai afinal tão longínquo quanto longínqua vai a sua memória.

É este pois o grande cavalo de batalha que os monárquicos deverão alimentar junto ao Povo: um intenso revival do sentimento monárquico: Monarquia, ao contrário de Républica que começa a não significar coisa nenhuma, representa passado, presente e futuro. É uma instituição que encerra em si os genes de Portugal e da portugalidade. É um canal no tempo que comunica directamente a 1143 e ao nascimento da Nação. É um sábio com 900 anos. É o estandarte que em todos os grandes momentos da história assinalou a presença de Portugal no Mundo. A relevância da Pessoa Real não lhe advêm da coroa ou do trono onde se senta mas sim do peso e da responsabilidade histórica que consigo transporta. Esse peso é Portugal, esse peso somos nós, é nossos pais e nossos avós.

Iniciei este texto por dizer que Portugal não quer transitar para Monarquia. Nesta fase tenho necessidade de me emendar: nem quer é a nação outra coisa, PORTUGAL QUER DESESPERADAMENTE TRANSITAR PARA MONARQUIA. Não está, porém, ciente disso. Vejamos factos:

-Ao contrário de países profundamente republicanos como sejam a França (a Revolução de 1789 ficou profundamente inscrita nas mentalidades) e a Itália (cuja constituição em Pátria Una é recente - século XIX - e portanto não permite à Instituição Monárquica gozar do prestígio que só o peso histórico confere), em Portugal existe uma profunda e generalizada simpatia popular, carinho ouso dizer, pelos membros da actual Família Real. Esse carinho, não tenho dúvidas exponenciar-se-á nos anos próximos mêrce de três jovens Príncipes que Portugal saberá amar no século XXI como amou outros, da mesma família, em séculos passados.

-A inclinação monárquica nacional é inata e verifica-se pela curiosidade -sem paralelo em nenhum país europeu - que temos em relação ao bê-a-bá das monarquias estrangeiras. Destaco o facto da quase totalidade da nossa imprensa e orgãos de comunicação social dedicarem a título permanente ou frequente páginas e rúbricas aos acontecimentos quotidianos das casas reais estrangeiras. Caso surpreendente e de estudo sociológico é o casamento, em 2003, do Príncipe das Astúrias; que sendo espanhol "não é da nosso conta"; que protagonizou durante meses as conversas de café entre nós e cujo dia da cerimónia monopolizou as três televisões nacionais de sinal aberto - RTP, SIC e TVI que bateram records de audiências transmitindo ininterruptamente e em directo os acontecimentos de Madrid. Nesse dia Portugal sonhou com um sonho alheio.
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-A um país de "estrutura familiar", como Portugal, em que os laços de sangue e as afectividades actuam como elementos chancelares na sociedade, um modelo de Família Real que se propaga no tempo pela sucessão dos filhos aos pais institui-se como referência e modelo para os cidadãos. A observação da Família Real e dos seus rituais tem a capacidade de estimular e revigorar a própria noção de nacionalidade que nessa família tem um dos seus mais válidos emblemas. As famílias reais corporizam os estados que chefiam e desse modo amenizam a imagem dura do aparelho governativo tornando-o mais intelígivel para todos.
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Pegar nesta e noutra argumentação, saber fazer a sua apresentação e planear a sua decorrente transmissão entre os portugueses é empreender o ressuscitar do Ideário Monárquico. Cabe a cada monárquico, na sua corrente ideológica própria, da esquerda à direita, religioso ou ateu, jovem ou velho... fazer o equílibrio próprio que permita passar a imagem da Monarquia e da Família Real como um plano e um pacto para o futuro. É necessário demonstrar que a Monarquia é um regime aberto a todos - um enorme casa, com um enorme telhado e cuja entrada se faz por diversas portas - e que se readapta sempre que necessário no sentido de acompanhar o processo histórico e as mudanças de consciência e de pensamento. Tudo isto porque é um regime humanista. A acção do Rei resulta de largos anos de aprendizagem e da sensibilidade extrema que este desenvolve para auscultar o seu País e o seu Povo. O upgrade do Regime Monárquico é diário porque é um regime sensitivo, em nada burocratizado e de resposta maquinal como o são as Républicas. A Monarquia não é hermética, não é estanque, não é estagnada, não é anacrónica e não é rígida. Abrir os olhos das massas para esta alternativa, que é tão preemente como viável, é um trabalho intelectual, é o desbravar de uma bruma psicológica que desde há 100 anos tolda o pensamento dos portugueses, é um apelo ao orgulho pátrio, à portugalidade e à ousadia que é afinal uma caracterítica tão portuguesa. É relembrar de onde vimos para poder então tomar o caminho a seguir em diante. É a Revolução Mental!
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Diogo de Figueiredo Mayo

5 comentários:

  1. Excelente esta análise, apesar de considerar que dada a nossa aliança com a "velha" Albion, Portugal acabaria por entrar na 1ª e até na 2ª Guerra Mundial sob a mão d'el Rei D. Manuel II.

    Uma vez mais, um excelente trabalho.

    IzNoGuud

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  2. A Revolução Mental concerteza que se porduzirá, no entanto, cabe aos mais determinados abrir portas à recuperação da auto-estima deste país "desreferenciado".

    Parabéns pelo artigo.

    Filipe Tojeiro

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  3. As mentes já estão a mudar, o que se prova pelo alastrar do rastilho monárquico. Monarquia em Portugal, antes de ser uma acção politica, terá que se assumir como consciência global alternativa ao estado actual.

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  4. Muito bom texto!
    Portugal é de facto um país monárquico na sua génese..e não é preciso ir buscar o casamento dos Príncipes das Astúrias (que é um bom exemplo) pois temos o do nosso casamento Real em 95, que mobilizou Portugal inteiro e fez a Republica tremer..e tremeu mesmo, mas nós monárquicos deixamos passar a oportunidade com um erro que cometemos sistematicamente: o sentimento de realização a cada manifestação Realista que faz esquecer a Republica por momentos. A causa monárquica precisa de tomar um ar fresco,unir-se com a consciência de é composta por um grupo plural e assim atrair de novo todos aqueles que magoados abandonaram o terreno continuando a tratar das suas vidas profissionais mas sem nunca deixarem de ser monárquicos, é preciso puxa-los de novo para virem dar o seu valioso contributo, porventura com a influencia que lhes é inerente (há muitos com posições estratégicas no campo politico,social,cientifico,etc..) É necessário vir discutir a Monarquia "para a rua" em conferências,palestras, nas escolas..e tirar as teias de aranha que são tão simples de sacudir, desde que estejamos unidos e organizados.

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